Os escritores brasileiros Ana Maria Machado e Antonio Torres debateram sobre o tema com o jornalista francês Gilles Lapouge, em mesa mediada pela professora Rita Olivieri-Godet.
A conversa aconteceu na programação do Stand do Brasil no Salão do Livro de Paris, no dia 21 de março. Acompanhe a seguir o relato do professor João Cezar de Castro Rocha, consultor do Conexões Itaú Cultural, que esteve no salão e conferiu o debate:
A moderadora, Rita Olivieri-Godet, professora da Université de Rennes 2, apresentou os participantes da mesa, destacando uma questão que, direta ou indiretamente, associa suas biografias: o deslocamento espacial.
Ana Maria Machado recordou sua experiência de exílio, pois, após a decretação do AI-5, a escritora se exilou na França com sua família, depois de ser ter sido presa em 1969. A premiada escritora – entre muitas outras distinções, recebeu o Prêmio Hans Christian Andersen (Conjunto da obra infantil, 2000) –, contudo fez uma importante ressalva. Vale dizer, a experiência do exílio permitiu “ver o próprio país de fora do Brasil”. Essa perspectiva, renovada e enriquecedora, foi importante para a futura obra da autora, especialmente no romance apresentado no Salon du Livre, Aos Quatro Ventos (Éditions des Femmes).
Antônio Torres radicalizou o sentido do deslocamento: “eu já nasci deslocado, pois todo escritor vive numa espécie de autoexílio, exilado no país imaginário de sua invenção”. Ademais, Torres prosseguiu, não somente ele migrou do Nordeste, mas também é oriundo de uma região deslocada no tempo: “uma terra sem rádio e sem notícias das terras civilizadas”. Portanto, Torres viveu um duplo deslocamento, transformado em forma literária num romance como Meu Querido Canibal, lançado no Salon du Livre (Éditions Petra).
Gilles Lapouge evocou sua primeira viagem ao Brasil, realizada em 1950. No ano seguinte, ele principiou a colaborar com O Estado de S. Paulo; colaboração que prossegue ainda hoje, ou seja, mesmo depois de ter retornado à França. Nesse sentido, sua vivência implicou um deslocamento constante, pois no Brasil ou na França, a relação com a cultura brasileira se manteve. Daí, ele afirmou, para a escrita do Dictionnaire amoureux du Brésil (PLON), “não se documentou especialmente”, antes lançou mão de sua longa vivência entre os dois países.
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