Algumas das mais importantes universidades dos Estados Unidos oferecem a seus estudantes a oportunidade de terem períodos de estudos no Brasil, criando condições para o desenvolvimento de futuras carreiras acadêmicas voltadas para a área. O escopo e a duração desses programas variam amplamente, embora a maioria aconteça durante o verão no hemisfério norte, correspondente ao nosso inverno (julho – setembro). O Rio de Janeiro é a cidade que mais desenvolve programas com universidades dos EUA – nisso se destacando a PUC carioca.
Provavelmente o mais antigo desses programas (desde 1984) é também o mais complexo de todos, promovido pela Brown University. Em 2018, o programa foi ampliado pelo Consortium for Advanced Studies Abroad (CASA), formado pelas universidades de Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth, Harvard, Johns Hopkins, Melbourne, Northwestern, Trinity College (Dublin), Pennsylvania e Vanderbilt, e com centros de estudos em Barcelona, Sevilha, Granada, Santiago, Buenos Aires, Havana. O programa desenvolvido pela Yale University também é aberto para outros países. Outras universidades, como as da Flórida, Oklahoma e Princeton, além do sistema de universidades estaduais da Califórnia têm, ou tiveram, programas similares. A Duke University desenvolve programa de intercâmbio com o IBEU de Ipanema, no Rio de Janeiro.
Segundo o professor Luiz Fernando Valente, da Brown University e mapeado do Conexões, o programa da universidade “nunca foi um curso de verão”. Os requisitos de admissão são bastante exigentes.
“Em 1984, a Brown estabeleceu o ‘Brown-in-Brazil Program’, primeiro em parceria com a Universidade Federal da Bahia e, a partir de 1991, também com a PUC do Rio de Janeiro”, conta o professor. “O programa começa com cinco a seis semanas de orientação (início de julho até mais ou menos 10 de agosto) seguido de um semestre ou um ano letivo, em que os alunos seguem três ou quatro disciplinas regulares na universidade parceira, lado a lado com estudantes brasileiros, complementados por um curso de língua portuguesa no nível avançado”.
Para se candidatar ao programa, os alunos devem demonstrar conhecimento da língua portuguesa e ter feito anteriormente pelo menos uma disciplina sobre o Brasil: em literatura, história ou ciências sociais. As alternativas de estudo no Brasil são bastante amplas, já que o programa CASA, no seu atual formato, permite a matrícula em cursos de 26 departamentos da PUC, em quatro núcleos acadêmicos: Teologia e Ciências Humanas, Ciências Sociais, Ciência e Tecnologia e Ciências Biomédicas.
Para se candidatar ao programa CASA Brasil as universidades participantes podem oferecer aos seus alunos dois caminhos, como explica Luiz Fernando Valente. O primeiro caminho “exige os mesmos requisitos do antigo ‘Brown-in-Brazil Program’, em termos de conhecimento de língua portuguesa. Alternativamente podem ser aceitos estudantes com menor conhecimento do idioma. Todos os estudantes da Brown continuam a ter que cumprir os antigos requisitos em termos de proficiência em português, mas cada universidade decide os seus próprios requisitos e em que tipo de programa seus alunos ficarão. O programa continua a ser de um semestre ou um ano letivo, precedido por seis semanas de orientação em seminários, com palestras, seminários, excursões, e uma semana na Bahia focalizada em estudos afro-baianos”.
Esses programas, portanto, são abertos para estudantes que já estão matriculados em programas de graduação nas respectivas universidades, e que manifestam interesse em ter um ou dois semestres de cursos na PUC do Rio de Janeiro.
Já o programa da Yale University tem um escopo diferente. Entra na categoria dos cursos de verão nos EUA e os alunos do Yale College têm preferência. No entanto, é possível a inscrição de alunos do “college”, o curso básico que antecede os estudos de graduação procedentes de outras universidades.
O professor Kenneth Jackson, professor de literatura brasileira na Yale University, também mapeado do Conexões, há anos coordena a iniciativa, e explica que “o programa faz parte do Yale Summer Sessions, cursos de estudos no exterior que abrangem várias línguas. Completamos em 2019 o 15º ano do programa “Paraty/Rio”, que consiste em 120 horas de língua portuguesa (aula dadas pela professora Dra. Elizabeth Jackson), e meu curso sobre a história da cultura (36 horas)”.
A parceria da Yale University é com o IBEU-Ipanema, e a tradicional escola de idiomas articula a hospedagem dos alunos junto a famílias brasileiras. Na primeira semana, em Paraty, os alunos ficam hospedados em uma das pousadas locais e, ao voltar para o Rio de Janeiro, são encaminhados para as residências do intercâmbio. O Yale Summer Sessions no Brasil existe desde 2005, com algumas mudanças em 2012. O único requisito para os participantes é conhecimento intermediário de outra língua românica, que é o espanhol para a vasta maioria, embora às vezes os alunos falam francês (inclusive em sua versão canadense) e “são de disciplinas diferentes, normalmente sem estudos prévios sobre o Brasil. Estão na faixa dos 18/19 anos e a experiência os impressiona bastante, assim alguns acabam voltando ao Brasil (para ensinar inglês com bolsa Fulbright, ou pesquisa no campo deles). Como moram com famílias no Rio, acabam se ligando – é comum ouvir depois de duas ou três semanas que os alunos “agora se sentem cariocas”, diz o professor Jackson.
Na contracorrente do fluxo de estudantes brasileiros para universidades dos EUA e da Europa, esses programas criam oportunidades para que jovens universitários americanos tenham oportunidade de conhecer aspectos da vida e da cultura brasileiras. No caso do programa do consórcio de universidades, a abertura para estudar até dois semestres em uma universidade brasileira abre perspectivas de colaboração e incentivo para a formação de futuros brasilianistas.
por Felipe Lindoso
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