Isaac Goldberg – Pioneiro no estudo da literatura brasileira nos EUA
em 24/07/2012

1922 foi um autêntico ano-encruzilhada na cultura brasileira, com a ocorrência simultânea de fatos contraditórios que marcaram a história do país. De imediato, pensamos na realização da Semana de Arte Moderna. Contudo, nesse mesmo ano, fundou-se o Museu Histórico Nacional – quase a antítese da Semana. De igual modo, o grande acontecimento cultural do ano foi a Exposição do Centenário da Independência, que atraiu um público numeroso de todo o Brasil e mesmo do exterior. Por fim, no campo político, dois acontecimentos foram decisivos e no futuro seriam adversários: a fundação do Partido Comunista Brasileiro e a revolta tenentista dos 18 do Forte de Copacabana, como se tornou conhecido o levante. 1922, portanto, é um desses anos que parecem não acabar nunca.

1922 também foi o ano da descoberta da literatura brasileira para os norte-americanos. Isaac Goldberg publicou, em Nova Iorque, pela editora de Alfred A. Knopf, um livro introdutório, Brazilian Literature.

No prefácio, assim explicou-se a oportunidade do lançamento: “É bem conhecida a importância política e comercial do Brasil, mas sua relevância no campo das letras não é evidente para os norte-americanos” (p. VIII). Em si mesmo, Brazilian Literature não apresenta nenhuma novidade, trata-se de uma introdução de caráter geral, como se depreende pela organização da obra.

Na primeira parte do livro, Goldberg discute os seguintes temas, devidamente listados no sumário: “O meio e a mistura racial – A tradição portuguesa, as contribuições africana e indígena – Modificações linguísticas – Nacionalismo e literatura – Problemas do futuro – Fases da literatura brasileira”. O modelo de Goldberg segue muito de perto a História da Literatura Brasileira, de Sílvio Romero; aliás, autor muito citado pelo norte-americano.

A segunda parte do livro é dedicada ao estudo de “Personalidades representativas”. Vale a pena mencionar o elenco privilegiado por Goldberg a fim de compreendermos o panorama de sua época: Castro Alves, Joaquim Maria Machado de Assis, José Veríssimo, Olavo Bilac, Euclides da Cunha, Manoel de Oliveira Lima, Graça Aranha, Coelho Neto, Francisca Julia da Silva, Monteiro Lobato”. O capítulo dedicado à obra de Francisca Julia da Silva (p. 261-276) também oferece uma breve panorama acerca do papel da mulher nas letras brasileiras. Uma característica interessante desses capítulos é a citação dos textos literários em português, com a correspondente tradução em inglês nas notas de rodapé.

Por fim, o livro apresenta ainda uma útil “bibliografia crítica selecionada” (p. 293-297) e conclui com um índice analítico (p. 299-303) que, apesar da usual aridez da leitura de índices, guarda elementos preciosos. Os autores mais citados são os grandes adversários do século XIX: Machado de Assis e Sílvio Romero. Depois deles, Ronaldo de Carvalho e Coelho Neto aparecem entre os autores mais populares. De 1922 a 2010 mudou muito o mundo, mas mudou ainda mais os critérios de seleção!

Por João Cesar de Castro Rocha

Serviço:

Brazilian Literature. Isaac Goldberg – autor. Editor: Alfred A. Knopf, NewYork, 1922.

Os assinantes de Questia podem ler o livro no site.

Quem não é assinante pode ler a primeira página de cada capítulo.

Deixe um comentário

*Campos obrigatórios. Seu e-mail nunca será publicado ou compartilhado.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.