Rabassa: Livro de Memórias de um grande tradutor
em 02/05/2011

Gregory Rabassa, consagrado tradutor do português e do espanhol para o inglês, publicou em 2005 uma deliciosa memória de seu ofício de tradutor: If this be Treason. Translation and its Discontents. A Memoir (New York: A New Direction Books). Este livro deveria ser publicado no Brasil, pois Rabassa traduziu um grande número de autores brasileiros, cujas obras comenta, destacando as soluções que encontrou para sua tradução.

A primeira parte do livro, “The Onset of Perfidy”, combina recordações de sua trajetória profissional com reflexões sobre “a tarefa do tradutor” – para recordar o célebre prefácio que Walter Benjamin escreveu para sua tradução de As Flores do Mal, de Charles Baudelaire. Rabassa, por exemplo, confessa que a “tradução não foi um ofício que planejei seguir, nem eu me preparei conscientemente para seu exercício através de treinamento ou contemplação. O espanhol tem um provérbio que diz: El diablo sabe más por viejo que por diablo” (10).
 
No entanto, a prática assídua do ofício permitiu a Rabassa a criação de um método particular, assim definido pelo tradutor de Cem anos de solidão e Memórias póstumas de Brás Cubas: “Como eu descobri, traduzindo Machado de Assis e Gracía Márquez, os mestres permitem ao tradutor verter sua prosa na melhor tradução possível: basta que o tradutor se deixe levar pela expressão dos mestres, seguindo o único caminho possível. Se o tradutor parar para refletir, é sinal de que se perdeu no meio do caminho” (17).
 
A segunda parte do livro, “The Bill of Particulars”, como o título sugere, apresenta uma lista selecionada dos autores e obras traduzidos por Rabassa ao longo de décadas de trabalho. Um grande número de autores brasleiros se encontra incluído, o que apenas reforça a necessidade de traduzir If this be Treason para o português. Em futuros posts, resgataremos os comentários de Rabassa sobre, por exemplo, Afrânio Coutinho, Dalton Trevisan, Jorge Amado, Vinícius de Moraes, Machado de Assis, entre outros.
 
Rabassa remata o livro com uma breve e bem-humorada avaliação de seu próprio esforço, “By Way of a Verdict”. Em suas palavras, se é verdade que ele “se encontra insatisfeito, mesmo com as traduções mais elogiadas”, nem por isso o tradutor deverá ser publicamente “executado”! O tradutor, portanto, oscila sempre entre a consciência de uma constante perda, que não se pode recuperar, e de ganhos eventuais, que devem ser valorizados. Afinal, em última instância, a possível traição, implícita em toda tradução, importa menos do que as pontes linguísticas e culturais criadas pelo tradutor: figura indispensável, sem a qual a literatura dita universal seria ainda mais provinciana…

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