A editora argentina Eterna Cadencia acaba de publicar Ellos eran muchos caballos, primeira tradução para o espanhol da obra Eles eram muitos cavalos, do escritor Luiz Ruffato. Abaixo, neste post, o leitor confere uma entrevista com o tradutor da obra, o professor e crítico argentino Mario Cámara.
Por que este livro? Como foi a escolha de uma obra dentro da obra do Ruffato, e no geral, como é a seleção das obras no seu trabalho?
Eu conhecia a literatura de Luiz Ruffato porque sou professor de Literatura Brasileira na Universidade de Buenos Aires. Gostava muito de Eles eram muitos cavalos e tive a oportunidade de recomendar a publicação do romance para a editora Eterna Cadencia.
Que dificuldades o livro ofereceu para a tradução?
Na verdade não é um livro fácil para traduzir, porque o Luiz trabalha muito com diferentes discursos, que abrangem diversas classes sociais e modos de falar de imigrantes residentes em São Paulo. E também porque essa ficção reproduz um mundo de objetos que foi preciso encontrar no espanhol.
Mas eu pude dialogar muito com Luiz, também contei com a ajuda de uma amiga “argentino-brasileira” que se chama Paloma Vidal [com quem Cámara edita o site Sala Grumo].
Você traduziu autores como Glauco Mattoso, Paulo Leminski e Ferreira Gullar. Como é a recepção da literatura brasileira, em especial a contemporânea, na Argentina? E no mercado de literatura em espanhol, no geral?
Eu só posso falar da recepção na Argentina, e eu acho que ela é muito boa. Em dez anos a literatura brasileira é uma presença importante. Além desses autores que você menciona também já temos traduções de Bernardo Carvalho, Milton Hatoum e João Gilberto Noll, e novas traduções de Clarice Lispector (eu traduzi A paixão segundo G.H e Laços de família), Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Machado de Assis.
A partir das obras que traduziu, que comentário faria sobre a literatura brasileira contemporânea?
Eu adoro autores clássicos como Machado de Assis, a quem considero um dos mais importantes escritores de Brasil e de América Latina toda. Também amo a Clarice Lispector, a Oswald de Andrade, também gosto de Ribeiro Couto e dos romances de Jorge Mautner, de Carlos Sussekind e seu maravilhoso romance, Armadilha para Lamartine. Da literatura contemporânea gosto de Luiz Ruffato, da Paloma Vidal, da Verónica Sttiger, do Nuno Ramos, de João Gilberto Noll.
Certa vez, Berthold Zilly, tradutor alemão de Machado de Assis e Euclides da Cunha, comentou que a atividade como tradutor melhorava a qualidade de sua atividade como professor. Em sua experiência, como a atividade de tradutor se relaciona à de professor e crítico?
Concordo com o comentário de Berthold. Traduzir é para mim um modo de conhecer melhor o texto, mais intimamente.
Como foi o seu percurso até a tradução, e em especial a tradução de literatura brasileira?
Comecei por traduzir Paulo Leminski, por causa de um projeto de pesquiso do qual eu participava. Nunca antes tinha pensado em traduzir. Foi então um pouco por acaso.
Algum próximo projeto de tradução?
Sim, estou traduzindo Estive em Lisboa e Lembrei de Você [também de Luiz Ruffato] e mais uma coletânea de Glauco Mattoso.
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