O lugar dos pesquisadores da literatura no exterior foi analisado a partir de perspectivas profissionais diferenciadas, na primeira mesa do II Conexões Itaú Cultural: Pesquisar a Literatura Brasileira Contemporânea – Padecer no Paraíso? Dos três participantes da mesa que trabalham em universidades latino-americanas, européias e norte-americanas, dois eram brasileiros, além do escritor Milton Hatoum.
As tradições acadêmicas diferentes informaram as abordagens dos debatedores. A situação institucional do pesquisador de literatura na universidade norte-americana informa a apresentação de Pedro Meira Monteiro, professor da Universidade de Princeton. Leonardo Tonus, brasileiro que trabalha na Universidade de Paris – Sorbonne, chamou atenção para os novos condicionantes institucionais impostos pelos acordos de Bolonha sobre o funcionamento da pesquisa e ensino universitários na Comunidade Européia e Horst Nitchack, alemão que trabalha no Centro de Estudos Culturais Latino-Americanos da Universidade do Chile, abordou a peculiar situação dos latinoamericanos de fala espanhola se verem de costas com a produção literária brasileira. Milton Hatoum, por sua vez, expressou algumas de suas perplexidades a partir da condição de escritor.
O primeiro debate do II Conexões Itaú Culural, “Pesquisar a literatura contemporânea: padecer no paraíso”, contou com a participação de Horst Nitschack, Leonardo Tonus, Milton Hatoum e Pedro Meira Monteiro. Mediada por Felipe Lindoso, curador do Conexões, a mesa discutiu as dificuldades enfrentadas por professores de literatura brasileira em sua prática profissional no exterior.
Horst Nitschack, professor da Universidade do Chile, tratou de suas atividades à frente do Centro de Estudos Culturais Latino-Americanos, que busca, a partir do desenvolvimento de determinadas linhas de pesquisa, promover a rara integração da região, sobretudo, segundo ele, entre Chile e Brasil. O Centro conta, atualmente, com nove alunos de doutorado, dentre os quais cinco se dedicam a temas brasileiros.
O professor de literatura na Universidade de Paris-Sorbonne Leonardo Tonus foi o segundo a falar nesta manhã. Partindo da sua experiência em uma universidade francesa, chamou a atenção para o isolamento em que vivem os estudiosos de Brasil no exterior: por um lado, são obrigados a se associar a centros de pesquisa exógenos à produção dos pesquisadores de temas brasileiros; por outro, a academia brasileira não dialoga com aquilo que é feito pelos pesquisadores ligados a universidades no exterior.
O escritor Milton Hatoum começou sua fala referindo-se ao Brasil como “continente ilhado pela língua”. Preocupado com a pouca integração latino-americana, contou que seus livros foram publicados em países como Grécia e Holanda antes de serem traduzidos na Argentina. A criação de um instituto nos moldes do Instituto Camões, sugere, minimizaria os danos causados pela falta de políticas públicas que estimulem traduções.
Último palestrante da Mesa 1, Pedro Meira Monteiro, professor da Universidade de Princeton, disse que um professor de literatura brasileira no exterior não pode se restringir a determinadas especialidades, já que os alunos das universidades norte-americanas pouco ou nada conhecem do cânone literário brasileiro, exigindo do professor abordagens que se distanciam daquelas pautadas pela história literária. Ao tratar da literatura contemporânea, lançou questionamento sobre a contribuição das formas eletrônicas para o novo fazer literário.
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