Já estão online os vídeos com a íntegra dos debates ocorridos durante o VI Encontros de Interrogação. Nos dias 7, 8 e 9 de setembro, cerca de 55 escritores, críticos literários e jornalistas de cultura estiveram reunidos na sede do Itaú Cultural, em São Paulo, para discutir as intranquilidades da produção literária contemporânea. Através do link o leitor tem acesso à lista completa dos vídeos, e, no final do post, aos descritivos das mesas e o link direto para cada uma delas.
Como são vistos o processo de criação, o papel da crítica, e a inserção no mercado? A proposta geral das 11 mesas foi a de pôr em pauta as angústias de ficcionistas, poetas e críticos literários, com o objetivo de “potencializar e defender a perplexidade”, conforme os curadores do evento, Claudia Nina e Thiago Rosenberg. A “perplexidade” se distribuiu por 11 mesas, entre as quais se destacam a homenagem à escritora Lygia Fagundes Telles e a mesa final, um balanço do que foi discutido ao longo do evento.
Segue a programação:
Mesa 1 – O que faz um autor diante do próprio silêncio?
com Adriana Lunardi, Daniel Galera, João Anzanello Carrascoza e Marçal Aquino
mediação Marcelo Moutinho
A literatura já é, em si, um ofício silencioso. Mas como um escritor, quando não está diante do papel ou da tela do computador, lida com o seu silêncio? O que representam, enfim, os momentos em que o escritor não escreve – entre um romance e outro, entre um conto e outro, em viagens, na mesa do bar…?
De acordo com Marçal Aquino, um dos convidados desta primeira mesa do Encontros de Interrogação 2011, “não há nada mais ruidoso do que o silêncio de um escritor”. E é justamente sobre esse silêncio – com todos os seus ruídos – que discutem, em alto e bom som, os integrantes deste debate.
Mesa 2 – Escrever é apenas narrar?
com João Silvério Trevisan, Joca Reiners Terron, Nelson de Oliveira, Paulo Scott e Rubens Figueiredo
mediação Paulo Werneck
O que é mais importante: a história narrada ou a maneira como ela é contada? Qual é o espaço da narrativa num momento em que, ao que parece, a forma precisa ser constantemente reinventada?
Do tal narrador onisciente às narrativas polifônicas, dos romances ditos naturalistas à literatura veiculada em cartazes pela cidade… Forma e conteúdo estão no centro deste debate, que integrou a programação da sexta edição do Encontros de Interrogação.
Mesa 3 – A literatura de Lygia Fagundes Telles
com Lygia Fagundes Telles, Fabricio Carpinejar, Marcelino Freire e Maria José Silveira
Em uma bem-humorada conversa com jovens escritores, Lygia Fagundes Telles comentaa sua obra, fala sobre o seu processo de criação e lembra episódios marcantes, e inusitados, vividos ao lado de nomes como Clarice Lispector, João Ubaldo Ribeiro e Jorge Luis Borges, entre
Autora de clássicos da literatura brasileira, como o romance As Meninas, de 1973, e o livro de contos Seminário dos Ratos, de 1977, Lygia foi a escritora homenageada desta sexta edição do Encontros de Interrogação.
Mesa 4 – Como as intranquilidades do mercado editorial interferem no processo de criação?
com Carola Saavedra, Frederico Barbosa, Luiz Ruffato e Ronaldo Correia de Brito
mediação Flávio Moura
Há quem defenda e há quem condene o mercado editorial brasileiro. Há escritores que não veem problema algum em se alinhar a uma editora e há escritores que, apostando nas possibilidades oferecidas pelos novos meios digitais, esperam ansiosamente pela “morte” do mercado editorial no país.
Com troca de farpas e cutucadas, este debate apresentou ao público da sexta edição do Encontros de Interrogação as opiniões de autores que se enquadram nos dois perfis citados.
Mesa 5 – As intranquilidades diante da primeira página: como atravessá-la sem desistir?
com Fernando Bonassi, João Paulo Cuenca, Luiz Vilela e Paloma Vidal
mediação Claudiney Ferreira
Dar o pontapé inicial na escrita de uma obra literária é, muitas vezes, um pesadelo na vida de escritores. Como e onde buscar as palavras iniciais, os temas e as reflexões? A primeira página pode assustar – ainda mais quando ela está em branco.
O que fazer, então, diante desse espaço em branco? Uma das ideias, lançada pelo escritor Luiz Vilela, é usar folhas de outras cores – amarelas, azuis… –, e não brancas. E as outras você conhece assistindo a este debate, que integrou a programação da sexta edição do Encontros de Interrogação.
Mesa 6 – Qual É o Espaço da Crítica de Ficção e de Poesia Hoje?
com André Vallias, Claudio Daniel, Claufe Rodrigues e João Cezar de Castro Rocha
mediação Marcos Strecker
A história da crítica em perspectiva, tendo Kant como principal ponto de partida em uma análise abrangente e profunda feita pelo professor e crítico literário João Cezar de Castro Rocha. Os desafios da crítica na atualidade: as dificuldades de atuação no espaço multimídia e, especificamente, no que se refere à poesia digital. Empobrecimento dos espaços de atuação da crítica diária e a preferência pelo entretenimento. A lenda dos antigos cadernos literários que simplesmente desapareceram em meio à crise dos grandes jornais.
E ainda: uma análise do papel da crítica durante os movimentos literários da modernidade, bem como o resgate da poesia marginal na contempornaiedade – como a crítica tem se posicionado diante deste ressurgimento com nova roupagem?
Qual é o papel, e como se dá a formação, do crítico literário brasileiro? Pode-se associar a suposta crise da literatura a uma crise da reflexão crítica? Quais são os espaços abertos à reflexão existentes hoje no Brasil? Otimismo ou pessimismo diante dos novos desafios e perspectivas?
Mesa 7 – Como Nasce uma Obra Quanto ao Gênero?
com Ivana Arruda Leite, Maria Esther Maciel, Michel Laub e Regina Dalcastagnè
mediação Claudia Nina
A relação entre os gêneros e o processo de criação dos autores – em que espaço eles se sentem mais à vontade para atuar e quais são as mudanças de percurso quando uma ideia estava preparada para ser desenvolvida em um determinado gênero, mas, de repente, transforma-se em outra coisa: isso ocorre com frequência?
Ainda é possível se falar em gêneros da mesma forma como se falava antes? Como trabalhar a questão dos gêneros em sala de aula, especialmente quando o tema são as obrasdo contemporâneo? Os limites cada vez menos marcados entre os gêneros. As novas perspectivas de criação e análise crítica a partir dos espaços da web.As novas plataformas criam outros gêneros?
Mesa 8 – Vamos Subverter a Geografia Literária?
com Cíntia Moscovich, Claudia Roquette-Pinto, Ferréz e João Filho
mediação Mário Hélio Gomes
O espaço antigeográfico por excelência da internet e a criação: como os autores se posicionam diante das possibilidades de interação sem limites da web. As antigas fronteiras se desfazem, enquanto os conceitos margem e centro se esfumaçam.
O que é periférico na criação que tem origem nas“margens” das grandes cidades? A experiência de levar para o mundo afora (a partir da internet e também das obras traduzidas) os temas que nascem das dificuldades da vida diária nas cidades da periferia de SP, segundo a avaliação de Ferrez.
A questão da poesia como espaço marginal independentemente do cerco geográfico que delimita espaço e tema, como explica a poeta Claudia Roquette-Pinto.
Mesa 9 – Quais São os Limites entre a Biografia e a Ficção?
com Micheliny Verunschk, Miguel Sanchez Neto e Tatiana Salem Levy
mediação Claudia Nina
Quais são os riscos internos e externos para um autor quando ele se expõe na sua criação? Toda a obra é essencialmente a fala de um “eu” com raízes profundas fincadas na subjetividade de cada autor?
Redefinição de conceitos, tais como subjetividade, autobiografia, biografia, gêneros.
A mesa coloca em discussão o processo de criação de algumas obras dos autores, que apontam as semelhanças entre ficção e biografia, ressaltando ainda a necessidade de ruptura com as definições rigorosas que caem por terra quando a noção mesma dos gêneros literários é colocada sob suspeita.
Mesa 10 – A Literatura Infantil e Seus Passos de Gigante: A Quantas Anda o Gênero no Brasil?
com Eva Furnari, Leo Cunha, Marcia Camargos e Marisa Lajolo
mediação Suzana Vargas
Como a literatura infantil no Brasil se renova a partir de sua tradição? Existe uma tendência internacional seguida por autores nacionais? Há critérios claros que separam a ficção adulta da ficção infantil? A evolução do gênero a partir do ponto de vista muito individual de cada autor.
A bela viagem histórica através das imagens feita pela autora e ilustradora Eva Frunari, que ressalta nesta mesa como a literatura infantil vem acompanhando a mudança da sociedade nos últimos 50 anos, do autoritarismo à democracia.
Os vínculos entre livro infantil e a escola. A inquietação e a falta de concentração dos leitores muito jovens. O avanço da qualidade e a liberdade da estética associada ao texto.
Mesa de encerramento – Os sentidos e os princípios da Literatura e da crítica
com Beatriz Resende, Cristovão Tezza, Florencia Garramuño e Lourival Holanda
mediação Manuel da Costa Pinto
A última mesa do Encontros de Interrogação 2011 reuniu escritores e pesquisadores para discutir algumas das principais questões levantadas ao longo do evento – que teve como tema central as intranquilidades que rondam a chamada literatura brasileira contemporânea.
Discutir, sim, mas não solucionar essas intranquilidades, essas interrogações. Afinal, como disse o crítico e professor Lourival Holanda, “solução cala, interrogação convoca” – e o Encontros de Interrogação vai seguir convocando os expoentes do meio literário a fim de debater seus pontos mais intranquilos.
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