Luiz Ruffato é entrevistado do Jogo de Ideias na Flip
em 21/10/2010

Seguindo a postagem da série especial do programa Jogo de Ideias na Festa Literária Internacional de Paraty, o entrevistado da vez é o escritor e jornalista mineiro Luiz Ruffato. Literatura, família, vida literária e a formação como leitor são alguns dos temas pelos quais o autor passeia, em entrevista realizada pelo jornalista Claudiney Ferreira e pelo escritor Flávio Carneiro.

Luiz Ruffato abre sua fala com uma provocação típica de um autor que, como gosta de se definir, se posiciona, diz o que pensa e quem é. Entre a visão da escrita como atividade calculada e cerebral, e da escrita como produto do contato com as Musas, Ruffato prefere pensar o escritor como filtro entre a memória coletiva (de onde colhe as histórias que narra) e a memória coletiva (à qual o livro retorna quando escrito). As histórias, aposta o escritor, pertencem aos personagens.

Ruffato retoma a tradição da literatura de crítica social e do contador de histórias, afirma Flávio Carneiro na segunda parte da entrevista. Esse é o gancho para que Ruffato fale sobre seus personagens, os excluídos a quem pretende dar voz em seus livros. Retomando a lição de Graciliano Ramos, Ruffato provoca: “a literatura brasileira costuma tratar os pobres como personagens pobres”. Por fim, a trajetória profissional errática, desde os tempos em que ajudava o pai, pipoqueiro, até a entrada na indústria têxtil e daí para o jornalismo e a literatura, serve de pretexto para uma rememoração do convívio familiar e de sua peculiar entrada no mundo da leitura.

A vida de escritor no Brasil é o tema desse trecho da entrevista. Luiz Ruffato afirma que a decisão pela literatura, como todas as decisões que toma, tem um sentido político. Encara a profissão de escritor como qualquer outra, com obrigações e até expediente. Também são tema sua aversão ao que chama de “vida literária” e, paradoxalmente, a relação de curiosidade e aprendizado que nutre com os escritores que lhe são contemporâneos, traduzida seja na organização de antologias, seja nas conversas com autores mais jovens. Para completar, o escritor divide histórias de achados e mal-entendidos do contato com leitores.

Na quarta parte da entrevista, Luiz Rufato fala sobre Estive em Lisboa e lembrei de você, livro escrito por encomenda ao projeto Amores Expressos, e arremata: “sou um escritor proletário, trabalho porque preciso comer”. Ruffato também comenta o projeto Inferno provisório, pentalogia que inclui, entre outros, os livros O mundo inimigo, Vista parcial da noite e O livro das impossibilidades. A entrada no mercado editorial, ele diz, foi determinante para que continuasse a escrever após o primeiro livro publicado, e também rende algumas curiosas histórias compartilhadas durante a conversa. Para completar o percurso através de suas obras, Ruffato lê um fragmento de Eles eram muitos cavalos.

Neste vídeo, Ruffato fala sobre sua experiência com a escrita e o público infanto-juvenil. O escritor considera que seu papel é dividir a memória das pessoas com as quais conviveu, os anônimos que, fora da literatura, não sobreviveriam e seriam apagadas pelo tempo. Por fim, Ruffato se define como um leitor sobretudo de poesia, que lhe tira do mundo e o leva para um espaço de reflexão.

Na sexta parte da entrevista, Luiz Ruffato, aceitando a provocação do escritor Flávio Carneiro, se coloca no lugar do leitor, e desta posição fala de Estive em Lisboa e lembrei de você. E declara: a tarefa do leitor é autônoma, o que ocorre com o livro depois de publicado não diz respeito a seu autor.

No último trecho da conversa, a ênfase está no trabalho de Ruffato, um verdadeiro operário da literatura, e na repercussão internacional de sua obra. O local e o universal na escrita de um autor ao mesmo tempo enraizado na memória e nas experiências de sua cidade e projetado para o mundo. Luiz Ruffato termina com uma homenagem aos pais, e, quando questionado sobre qual pergunta não aguentaria mais responder, acaba homenageando, também, o público.

Deixe um comentário

*Campos obrigatórios. Seu e-mail nunca será publicado ou compartilhado.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.