Daniele Petruccioli é italiano, tradutor de vários autores de Portugal, Angola e Brasil diz que seu interesse pela língua portuguesa começou “graças ao contato com a literatura e a cultura brasileira”.
“No ano 2006, viajando de barco pelo rio Amazonas com a minha mulher, líamos em voz alta a tradução italiana de Grande Sertão: Veredas (que eu já tinha lido em versão original) por Edoardo Bizzarri. Logo depois de a gente voltar, vi que as cartas entre Bizzarri e Guimarães Rosa sobre aquela tradução tinham sido publicadas. Aquele trabalho (que na minha visão estava muito ligado às teorias de Haroldo de Campos sobre a tradução, e em linha mais geral ao conceito oswaldiano de antropofagia cultural) abriu-me horizontes inesperados em relação à tradução literária. Por isso é correto dizer que sou um especialista em tradução que se tornou tradutor do português por gratidão ao que a teoria e a literatura brasileiras me ensinaram sobre o assunto.”
Tradutor profissional, Petruccioli preocupa-se com as questões da presença de autores que escrevem originalmente em português no mercado editorial italiano.
“Segundo o último relatório da AIE (Associazione Italiana Editori), os livros traduzidos em 2008 na Itália foram pouco menos de oito mil (8000), sendo a narrativa mais o menos o 30% do total. Desta porcentagem, o 43% compunha-se de títulos por autores anglófonos, 2,3% francófonos, 1,3% de área linguística alemã e 0,7% hispanófonos. A porcentagem de autores lusófonos não estava indicada, mas segundo uma pesquisa (Mariagrazia Russo, “Note traduttologiche queirosiane”, in Mariagrazia russo, ao cuidado de, Tra centro e periferia, in-torno alla lingua portoghese: problemi di diffusione e traduzione, Sette Cttà, Viterbo 2007) não mais de 10 títulos de autores lusófonos são publicados cada ano em Itália. No mercado editorial, portanto, o lugar da literatura brasileira só pode ser, infelizmente, marginal. Isto não significa, entretanto, que a literatura brasileira seja tal no entendimento do leitor italiano de cultura média. Autores como Jorge Amado ou Gumarães Rosa são universalmente conhecidos e reconhecidos. Mas muito se pode fazer para que outros autores, clássicos e contemporâneos, entrem a fazer parte dos escritores preferidos pelo público italiano.”
Para ele, entretanto, a literatura brasileira contemporânea brasileira tem amplas possibilidades de dialogar com os leitores italianos.
“O esforço dos escritores brasileiros nestes últmos anos (penso por exemplo em Ronaldo Correia de Brito ou Altair Martins) para dialogar com as próprias raízes à frente das grandes mudanças do Brasil moderno é muito parecido com os problemas culturais e de consciência do cidadão italiano de hoje em dia. É só pôr as duas culturas em contato para elas se falarem.”
Daniele Petruccioli trabalha principalmente por demanda das editoras e das agências literárias internacionais. Por essa razão, têm traduzido mais autores portugueses que brasileiros. Mas considera que “a apresentação na Itália de autores brasileiros em ocasiões de intercâmbio cultural como feiras e salões do livro, ou convites de editores e tradutores italianos em ocasiões similares no Brasil, seriam de enorme utilidade.”
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