Luiz Ruffato é o caso de um escritor cuja obra é indissociável de um posicionamento diante do mundo. Sua visão da atividade de autor como um ofício, diário e comprometido, e a necessidade de instituir para si compromissos, razões para insistir escrevendo, mais do que uma vontade desejosa de expressar-se, são dois sinais de que se trata de um raro escritor com projeto — um projeto cujos dois pés estão na história, a pessoal e a de nosso tempo.
Nascido em uma família pobre na cidade de Cataguases, interior de Minas Gerais, Ruffato enfatiza sempre o compromisso de sua escrita com a realidade que conhece bem: o mundo do trabalhador urbano, “os sonhos e pesadelos da classe média baixa, com todos os seus preconceitos e toda a sua tragédia”. A formação da socidade brasileira é recuperada em sua obra do ponto de vista desta faixa social opaca para a maioria dos leitores, pois ausente da obra da maioria dos escritores.
Mas Ruffato é outro caso raro de escritor, segundo a jornalista Eliane Brum: aquele cujo contato pessoal não prejudica a apreciação da obra. De perto, ela diz, o escritor é tão admirável quanto por trás dos livros. E decidiu compartilhar essa história com os leitores de sua coluna na revista Época.
Em A Igreja do Livro Transformador, é possível adentrar o mundo como o enxerga Luiz Ruffato, e reconhecer o escritor pelo que ele tem de mais pessoal. É também um encontro com sua linguagem, pois o texto da jornalista alcança uma forma condizente com a escrita de seu perfilado, fragmentada e tópica. “É possível começar pelo fim ou mesmo pelo meio. E depois ir ao começo. Ou seguir a trajetória mais ou menos linear. Cada leitor descobre seu rumo”, orienta a própria Eliane Brum.
O leitor que entrar nesse texto irá presenciar um belo encontro. A literatura está lá, unindo jornalista e seu personagem, e de modo tão pessoal que chega a encontrar uma definição. A literatura nos salva pelo avesso, propõe Eliane Brum. “Porque nos enche de perguntas em vez de respostas, nos inquieta, nos dá comichão e insônia, perturba mais que pernilongo e nos transtorna para todo o sempre ao mostrar que o mundo é grande e sempre além. A literatura acaba nos salvando exatamente porque nos põe a perder dos destinos determinados”.
Inspirado nas definições que propõe, o texto também arrisca uma que dê conta da relação da jornalista com o escritor. “Econtrá-lo é como chegar em casa”, Eliane Brum o apresenta, e é o leitor quem se sente à vontade.
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