Literatura (e) política de Ruffato – Encontro Conexões (áudio)
em 20/03/2017

A segunda mesa do Encontro Internacional Conexões Itaú Cultural 2016 reuniu o escritor Luiz Ruffato – autor de livros como Eles Eram Muitos Cavalos e a série Inferno Provisório – e dois profisisonais que trabalham com sua obra no exterior: o tradutor alemão Michael Kegler e o professor da Universidade Brown Nelson Vieira.


A seguir, o registro da mesa A literatura de Luiz Ruffato no exterior. Mais abaixo o relato da produtora cultural Fernanda Guimarães, também pesquisadora do Conexões.



Literatura (e) política de Ruffato


Para Rita Palmeira, editora e pesquisadora do programa Conexões Itaú Cultural, Luiz Ruffato seria “um caso a ser estudado”: tanto ele quanto suas obras circulam muito, sendo sua contribuição para a presença da literatura brasileira fora do país das mais expressivas da atualidade. A segunda mesa do 9º Encontro Internacional Conexões Itaú Cultural contou com a presença do tradutor alemão Michael Kegler e do professor de Estudos Portugueses & Brasileiros e Estudos Judaicos na Universidade Brown Nelson Vieira, além da do próprio Ruffato. Dando início à discussão, Palmeira sugeriu que se comentasse o discurso de Ruffato na Feira de Frankfurt de 2013, visto por muitos comentadores como polêmico e que dará origem a livro editado na Inglaterra, com lançamento previsto para 2017.


Luiz Ruffato afirmou que não entendia onde estava a polêmica do discurso: o que fez foi descrever – usando estatísticas concretas – a realidade brasileira, que piorou radicalmente desde então, com a instauração de uma ditadura branca, jurídica, que já regrediu muito do pouco que foi conquistado nos governos Lula. Os escritores brasileiros, a seu ver, lutam contra tudo e contra todos, incluindo a universidade e os demais escritores. Ao comentar a circulação da literatura brasileira no exterior, defendeu que a medida justa do trabalho de mediação realizado pelo tradutor seria incluir seu nome na capa, junto com o nome do autor.


Luiz Ruffato (foto: Guilherme Castoldi)


Michael Kegler, premiado tradutor de diversas das obras de Ruffato para o alemão, observou o caráter deslocado do discurso em Frankfurt: as informações eram absolutamente verídicas, mas o que se esperava para a ocasião era um discurso “bonito”, e não a realidade brasileira. Nelson Vieira ressaltou um aspecto naquele texto que ecoava a própria literatura de Luiz Ruffato: o olhar local e global. A literatura de Ruffato permitiria um olhar para si, de forma a ver o mundo.


Vieira lembrou ainda que a circulação e a leitura são elementos essenciais para determinar a literatura mundial, enfatizando papel do tradutor e citando o famoso aforismo de José Saramago: “os autores escrevem as suas respectivas literaturas nacionais, mas a literatura mundial é obra dos tradutores”. Kegler e Ruffato abordaram de diferentes formas a questão da circulação internacional: enquanto o primeiro ressaltou o interesse na valorização da literatura – não necessariamente literatura brasileira –, Ruffato julgou perigoso o apagamento do adjetivo pátrio, o seu interesse sendo justamente a tensão entre o local e o universal.


Luiz Ruffato, Michael Kegler e Nelson Vieira (foto Guilherme Castoldi)


Da plateia, o professor João Cezar de Castro Rocha complementou, sobre o discurso, que melhor seria se se passasse a discutir a questão política e economicamente, em vez de literariamente. Lembrou da declaração de Mário de Andrade, de que a literatura brasileira só seria grande quando a moeda brasileira tivesse valor, lembrando que circulação não se faz sem moeda.


A polêmica que nasce de se mencionar a realidade brasileira em uma situação de representação do Brasil no exterior serve de alegoria da própria literatura de Luiz Ruffato e de sua presença, como autor e como personagem, no mundo.


Ouça o registro da mesa A tradução de Grande Sertão : Veredas, que abriu a 9ª edição do Encontro Internacional Conexões Itaú Cultural


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Sobre outros encontros do Conexões Itaú Cultural

  1. Hoje já podemos problematizar esta questão que vínhamos repetindo, de que não houve participação de partidos, movimentos sociais e outras organizações tocando as manifestações de junho de 2013. Pela frente dos panos, concordo, já por trás dos panos, não diria.

    06.05.2017 | 19:24 Lohanna Machado

  2. /\ Este comentário era lá para o encontro “O Brasil fora de si”, me confundi aqui com as abas ouvindo aos áudios do Encontro. =)

    06.05.2017 | 19:26 Lohanna Machado

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