A segunda mesa do Encontro Internacional Conexões Itaú Cultural 2016 reuniu o escritor Luiz Ruffato – autor de livros como Eles Eram Muitos Cavalos e a série Inferno Provisório – e dois profisisonais que trabalham com sua obra no exterior: o tradutor alemão Michael Kegler e o professor da Universidade Brown Nelson Vieira.
A seguir, o registro da mesa A literatura de Luiz Ruffato no exterior. Mais abaixo o relato da produtora cultural Fernanda Guimarães, também pesquisadora do Conexões.
Literatura (e) política de Ruffato
Para Rita Palmeira, editora e pesquisadora do programa Conexões Itaú Cultural, Luiz Ruffato seria “um caso a ser estudado”: tanto ele quanto suas obras circulam muito, sendo sua contribuição para a presença da literatura brasileira fora do país das mais expressivas da atualidade. A segunda mesa do 9º Encontro Internacional Conexões Itaú Cultural contou com a presença do tradutor alemão Michael Kegler e do professor de Estudos Portugueses & Brasileiros e Estudos Judaicos na Universidade Brown Nelson Vieira, além da do próprio Ruffato. Dando início à discussão, Palmeira sugeriu que se comentasse o discurso de Ruffato na Feira de Frankfurt de 2013, visto por muitos comentadores como polêmico e que dará origem a livro editado na Inglaterra, com lançamento previsto para 2017.
Luiz Ruffato afirmou que não entendia onde estava a polêmica do discurso: o que fez foi descrever – usando estatísticas concretas – a realidade brasileira, que piorou radicalmente desde então, com a instauração de uma ditadura branca, jurídica, que já regrediu muito do pouco que foi conquistado nos governos Lula. Os escritores brasileiros, a seu ver, lutam contra tudo e contra todos, incluindo a universidade e os demais escritores. Ao comentar a circulação da literatura brasileira no exterior, defendeu que a medida justa do trabalho de mediação realizado pelo tradutor seria incluir seu nome na capa, junto com o nome do autor.
Michael Kegler, premiado tradutor de diversas das obras de Ruffato para o alemão, observou o caráter deslocado do discurso em Frankfurt: as informações eram absolutamente verídicas, mas o que se esperava para a ocasião era um discurso “bonito”, e não a realidade brasileira. Nelson Vieira ressaltou um aspecto naquele texto que ecoava a própria literatura de Luiz Ruffato: o olhar local e global. A literatura de Ruffato permitiria um olhar para si, de forma a ver o mundo.
Vieira lembrou ainda que a circulação e a leitura são elementos essenciais para determinar a literatura mundial, enfatizando papel do tradutor e citando o famoso aforismo de José Saramago: “os autores escrevem as suas respectivas literaturas nacionais, mas a literatura mundial é obra dos tradutores”. Kegler e Ruffato abordaram de diferentes formas a questão da circulação internacional: enquanto o primeiro ressaltou o interesse na valorização da literatura – não necessariamente literatura brasileira –, Ruffato julgou perigoso o apagamento do adjetivo pátrio, o seu interesse sendo justamente a tensão entre o local e o universal.
Da plateia, o professor João Cezar de Castro Rocha complementou, sobre o discurso, que melhor seria se se passasse a discutir a questão política e economicamente, em vez de literariamente. Lembrou da declaração de Mário de Andrade, de que a literatura brasileira só seria grande quando a moeda brasileira tivesse valor, lembrando que circulação não se faz sem moeda.
A polêmica que nasce de se mencionar a realidade brasileira em uma situação de representação do Brasil no exterior serve de alegoria da própria literatura de Luiz Ruffato e de sua presença, como autor e como personagem, no mundo.
Ouça o registro da mesa A tradução de Grande Sertão : Veredas, que abriu a 9ª edição do Encontro Internacional Conexões Itaú Cultural
Sobre outros encontros do Conexões Itaú Cultural
Hoje já podemos problematizar esta questão que vínhamos repetindo, de que não houve participação de partidos, movimentos sociais e outras organizações tocando as manifestações de junho de 2013. Pela frente dos panos, concordo, já por trás dos panos, não diria.
06.05.2017 | 19:24 Lohanna Machado
/\ Este comentário era lá para o encontro “O Brasil fora de si”, me confundi aqui com as abas ouvindo aos áudios do Encontro. =)
06.05.2017 | 19:26 Lohanna Machado