Conceição Evaristo, Carola Saavedra e Adriana Lunardi e a Escrita de si e Escrita do outro
em 30/03/2015

As escritoras Adriana Lunardi, Carola Saavedra e Conceição Evaristo debateram sobre a escrita de si e a escrita do outro no último 21 de março, no Salão do Livro de Paris, com moderação de Claudia Poncioni.
O professor João Cezar de Castro Rocha, consultor do Conexões Itaú Cultural, nos envia o relato a seguir sobre a atividade: 
Conceição Evaristo
Conceição Evaristo (foto Mariana Evaristo)
A moderadora, Claudia Pocioni, professora da Université Sorbonne Nouvelle – Paris III, convidou a escritora Conceição Evaristo a contar sua história, com destaque para as dificuldades enfrentadas na publicação de seu primeiro livro.

 

A autora principiou com uma ressalva: tal contratempo “não representa novidade alguma”. Afinal, sempre é um desafio o esforço de escrever e produzir conhecimento contra “todo o imaginário criado em torno do negro no Brasil”.

 

Conceição Evaristo aprofundou a reflexão: “As feministas dizem que escrever é um ato político; já para as negras publicar também é um ato político”. Por isso, continuou, “a resistência à condição subalterna”  implica manter a esperança na capacidade de superação das desigualdades. Nas suas palavras, trata-se de combinar “resiliência e resistência”.
Eis que, antes de concluir sua instigante participação, Conceição Evaristo foi interrompida por Guiomar de Grammont e, às pressas, foi conduzida para o estande brasileiro, pois o presidente François Hollande passava pelo local e a autora de Becos da Memória foi escolhida para ser apresentada ao mandatário francês.
Por algum motivo, quase todos os presentes no espaço de conferências deixaram a sala, que ficou praticamente vazia. No auditório, a moderadora, Carola Saavedra, Adriana Lunardi e alguns poucos remanescentes se entreolharam atônitos.
Destaque-se a dignidade com que as escritoras lidaram com o episódio: Conceição Evaristo retornou à sala, retomando com elegância o fio da meada. Adriana Lunardi e Carola Saavedra aguardaram a retomada da sessão como se nada estivesse acontecendo.
Conceição Evaristo concluiu afirmando que seu propósito é ser reconhecida como escritora; isto é, independentemente de qualquer tipo de estereótipo.
Carola Saavedra

Carola Saavedra (foto Andrea Marques)

Após ouvir algumas perguntas do público à escritora Conceição Evaristo, a moderadora apresentou rapidamente a trajetória de Carola Saavedra, sublinhando seu deslocamento do Chile para o Brasil, ocorrido ainda em sua infância.

 

Então, perguntou à autora quais as questões propostas ao leitor pelo romance Paisagem com dromedário.

Carola Saavedra distinguiu duas áreas principais de questionamento em sua escrita.

 

De um lado, predominam questões relativas à prática artística e às formas múltiplas de apropriação de uma obra. Aqui, as afinidades eletivas de seu projeto com as artes plásticas devem ser assinaladas.

 

De outro, tratam-se de dilemas associados aos relacionamentos, assim como aos modos de compreensão dos próprios sentimentos.

 

Em resposta à pergunta da moderadora, Carola Saavedra esclareceu que, embora tenha lido com intensidade a obra de Clarice Lispector, seu projeto literário não possui uma relação clara ou mesmo necessária com a obra da autora de A maçã no escuro.

 
Adriana Lunardi

A moderadora Claudia Pocioni apresentou a trajetória de Adriana Lunardi, destacando seus títulos publicados em francês.

 

Em seguida, indagou se o leitor encontra traços da personalidade da autora em seus livros.

Adriana Lunardi confirmou – não sem alguma ironia: sim, mas num sentido mais sutil. Vale dizer, sim, porém na medida em que a própria autora se descobre através da escrita, no momento mesmo em que produz a obra.

 

Lunardi aproveitou para esclarecer a relação que estabelece entre realidade e imaginário: “são como irmãs, sempre juntas, às vezes em conflito, mas sempre ligadas”.

 

Em resposta à pergunta da moderadora, Adriana Lunardi afirmou que o texto de Clarice Lispector teve um efeito libertador, pois seus livros abriram a possibilidade de pensar uma literatura contra e não a favor da linguagem. Isto é, tornou-se possível pensar num projeto literário que investisse na transgressão linguística como forma de escrita.
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