A prestigiosa coleção Pequeños grandes ensayos, publicada pela editora da UNAM (Universidad Nacional Autónoma de México), acaba de lançar uma seleção de ensaios críticos de Machado de Assis: Textos críticos, com apresentação de Consuelo Rodríguez Muñoz, e com tradução de diversos pesquisadores, reunidos num importante e produtivo “Seminário de Tradução”, coordenado há anos pela Professora Titular da UNAM, Valquíria Wey (mapeada do Conexões Itaú Cultural).
Ao contrário do que geralmente se supõe, Machado sempre foi sensível à possibilidade de divulgar sua obra no estrangeiro.
Por exemplo, em carta enviada a Joaquim Nabuco, em 1 de agosto de 1908, após parabenizar o amigo por suas conferências em universidades norte-americanas, lamentou a marginalidade da língua portuguesa:
“Obrigado por todos e particularmente pelo que trata do lugar de Camões na literatura. É bom, é indispensável reclamar para a nossa língua o lugar que lhe cabe, e para isso os serviços políticos internacionais que prestarem não serão menos importantes que os puramente literários. Realmente é triste, ver-nos considerados, como V. nota, em posição subalterna em relação à língua espanhola”.
Naturalmente, Machado sequer menciona o francês ou mesmo o inglês, pois, nesse caso, a subalternidade seria inquestionável. Ao que parece, em briga de cachorro grande, o português não entra!
Em 10 de julho de 1902, ao sair a primeira tradução das Memórias póstumas, para o espanhol, no Uruguai, Machado escreve a Luís Guimarães Filho:
“A tradução só agora a pude ler completamente, e digo-lhe que a achei tão fiel como elegante, merecendo Júlio Piquet, ainda mais por isso meus agradecimentos”.
Brasileiro radicado em Montevidéu, Júlio Piquet foi o tradutor do romance – (tradução recentemente republicada pelo Professor Titular Pablo Rocca, da Universidad de la República, Uruguai, e mapeado do Conexões Itaú Cultural). Antes houve uma malograda tentativa de publicação de seus livros no idioma de uma das “grandes nações pensantes”, como Eça de Queirós se referia às culturas francesa, inglesa e alemã. Leia-se a carta enviada a Alfredo Elis, em 10 de junho de 1899:
“Acabo de escrever para Paris ao Sr. H. Garnier, pedindo-lhe que diretamente dê autorização à senhora, de quem V. Ex.a fala no seu bilhete, para a tradução dos meus livros em alemão”.
A autorização não foi dada, mas o empenho machadiano é o que conta para concluir que, provavelmente, Machado ficaria muito feliz com a nova tradução mexicana de seus Textos críticos.
Aliás, nos últimos anos, inúmeros livros de Machado de Assis foram lançados no México – tema que será tratado em futuros posts.
(João Cezar de Castro Rocha)
Link relacionado:
Machado em tradução – Japonês
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