Lançado conjuntamente pela editora da PUC-Rio e pela 7Letras, o livro Narrativas migrantes: literatura, roteiro e cinema, da professora Vera Lúcia Follain de Figueiredo, vem acrescentar substância a alguns dos debates mais importantes da literatura e cultura contemporâneas.
Reunião de artigos publicados em coletâneas e revistas especializadas, a obra se situa entre os estudos literários e os de comunicação. Nada mais apropriado em se tratando de um livro que aborda justamente as intersecções entre campos da cultura, a literatura e o cinema, com destaque para o “deslizamento” das narrativas de um suporte a outro, ou seja, a reciclagem de argumentos ficcionais em meios diferentes.
Neste estudo sobre as relações entre narrativa literária e cinematográfica, em suas variações, desdobramentos e aproximações — que são irrestritas às adaptações, como a autora faz questão de frisar — argumenta-se que as transformações tecnológicas têm operado deslocamentos das especificidades de cada linguagem, abalando a estabilidade de seus suportes tradicionais e favorecendo o intercâmbio entre os campos artísticos e as mídias. Em síntese, quando traduzidos em dados numéricos pelo computador, “filmes, fotografias, textos e músicas inserem-se numa rede não hierárquica de circulação”.
Temas que tangenciam a questão, como a relação entre literatura e roteiro, a situação do mercado editorial, a figura do escritor multimídia ou a crise dos paradigmas estéticos da modernidade são discutidos a partir da obra de autores como Marçal Aquino, Lourenço Mutarelli, Rubem Fonseca, Fernando Bonassi, Sergio Sant’Anna, Bernardo Carvalho ou Leandro Konder, e de cineastas como Walter Salles, Beto Brant, Eduardo Coutinho, José Padilha e Jorge Furtado, entre outros.
Uma ideia que atravessa e organiza os ensaios é a de que alterações nos modos de produção e nas formas de apresentação das narrativas são acompanhadas por modificações no modo de leitura, abrindo-a para novas possibilidades. Sem abrir mão da perspectiva histórica (observando por exemplo os cruzamentos entre ficção e jornalismo comuns no século XIX, ou a antecipação feita por Walter Benjamin da dissolução das categorias de autor e público consumidor), trata-se de um mergulho no contemporâneo em uma de suas manifestações mais desafiadoras, pois envolve criação, circulação e leitura de novos formatos.
Vera Lúcia Follain de Figueiredo é doutora em Letras pela PUC-Rio, e professora na mesma instituição. Publicou Da profecia ao labirinto: imagens da história na ficção latino-americana contemporânea e e Crimes do texto: Rubem Fonseca e a ficção contemporânea.
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