Mapeamento de criadoras latino-americanas: uma visão sobre a literatura digital
em 29/09/2020

No artigo Mulheres da América Latina que criam literatura digital: uma visão geográfica geral, Nohelia Mezaa, professora da University of Leeds, do Reino Unido,  apresenta uma visão geral das mulheres criadoras da literatura eletrônica latino-americana a partir de um levantamento de obras mapeadas pela Organização da Literatura Eletrônica Coleções, de Chicago (EUA), e incluídas na Base de Conhecimento de Literatura Eletrônica, mantida pela Universidade de Bergen, na Noruega.

O projeto espanhol Ciberia, a seção de literatura, do projeto Cultura digital en Chile: literatura, música y cine,  a coleção de Eliteratura, do Centro de Cultura Digital da Cidade do México, o Atlas de Literatura Digital Brasileira e a Antologia do Premio Itaú de Cuento Digital, realizado pela Fundação Itaú argentina, foram outras fontes exploradas pela professora.

Além disso, a pesquisadora fez um trabalho de inclusão de outras escritoras que não foram mencionadas pelas fontes citadas acima. O trabalho resultou em um conjunto de 43 mulheres criadoras para identificar possíveis relações entre seu país de nascimento, o ano de criação de sua primeira obra e as ferramentas tecnológicas que foram utilizadas para criação de suas obras.

Um dado importante da pesquisa é a identificação de maior atividade das mulheres artistas em países como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México. Uma explicação para esse resultado é o desenvolvimento da vertente digital, desde meados dos anos de 1960 e até o final dos anos de 1980.

Outro ponto de atenção, é a necessidade de ampliar a classificação das atividades, considerando que a maioria das mulheres criadoras latino-americanas, que foram incluídas nestes bancos de dados globais recentes de literatura, cai na definição geral de e-poetas. Por isso, Mezaa afirma que é necessário um estudo que identifique os gêneros na prática da literatura eletrônica.

No caso do Brasil, a professora aponta que Lenora de Barros, poeta, performer e vídeo artista, criou Poema, em 1979, com uma série de fotografias representando a língua do artista interagindo com o mecanismo de uma máquina de escrever. Sua poesia foi muito influenciada pelo Grupo Noigandres, formado por Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari.

Mezaa fala também de Giselle Beiguelman, que criou o ensaio hipertextual e visual, O Livro depois do livro (HTML, JavaScript, baseado na web), em 1999. A obra reconfigura a relação literatura / livro a partir da própria noção de volume, questionando o futuro do livro impresso através do texto lingüístico, animação, imagens e vídeos. Recentemente, Beiguelman criou o ensaio hipertextual, Coronary [Coronária], em resposta à pandemia COVID-19, com experimentações entre diferentes plataformas / telas e entre diferentes linguagens – fônico, humano linguagens, scripts não fônicos e linguagens de programação. 

A pesquisadora e artista visual Regina Célia Pinto é citada como criadora do Museu do essencial e além, que arquiva obras digitais de artistas do mundo todo, mostrando a evolução dos discursos e práticas tecnológicas, desde 2020. O repositório está entre os primeiros exemplos de preservação, arquivamento e disseminação de literatura e arte digital. 

Outra artista e pesquisadora interdisciplinar, que tem liderado projetos de arte e tecnologia, desde 1989, é Lúcia Leão. Entre seus primeiros trabalhos está Qual é o seu sonho? (HTML, JavaScript, baseado na web) e Hermenetka (2005) (HTML, Javascript, baseado na web). Leão explora o urbanismo digital e a cibercultura brasileira usando Labirintos VRML gerados a partir de mapas, imagens, textos, vídeos e / ou hiperlinks de diferentes cidades brasileiras. 

Saiba mais:

Mulheres da América Latina que criam literatura digital: uma visão geográfica geral

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